Cientistas alertam que rascunho de mapa do caminho contra combustíveis fósseis e desmatamento é 'provocação' e ignora gravidade da crise climática

  • 19/11/2025
(Foto: Reprodução)
Manifestantes carregam representação de uma cobra durante um protesto em defesa dos direitos dos povos indígena na COP30, em Belém, em 18 de novembro de 2025. Adriano Machado/Reuters Um grupo com alguns dos mais influentes cientistas do clima reagiu à primeira versão do rascunho que define o que seria o "mapa do caminho" na COP30. Em um documento divulgado nesta quarta-feira (19), os pesquisadores chamaram o rascunho de "provocação" e disseram que a conferência tem duas opções: proteger as pessoas e a vida ou a indústria dos combustíveis fósseis. O documento, assinado por especialistas como Carlos Nobre, Thelma Krug, Johan Rockström e Paulo Artaxo, afirma que os países estão diante de um um ponto crítico da crise climática e que as propostas atuais dos roteiros para eliminar os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento não correspondem ao nível de urgência exigido. “Estamos em uma encruzilhada planetária. Já estamos enfrentando perigo. Bilhões de pessoas já sofrem, e avançamos rapidamente rumo a pontos de inflexão na Amazônia, nos recifes de coral tropicais e em muitos outros sistemas. A COP30 tem uma escolha a fazer: proteger as pessoas e a vida ou a indústria de combustíveis fósseis”, afirmam os especialistas. 🌎 CONTEXTO DAS NEGOCIAÇÕES: A reação dos pesquisadores veio depois da publicação do rascunho das negociações que considera o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis. A questão levantada pelos cientistas é que as propostas incluídas naquilo que os negociadores chamam de "ação de mutirão" não se aproximam de um roteiro e não podem ser consideradas um sucesso. Veja os vídeos que estão em alta no g1 O rascunho publicado na terça-feira traz duas opções que estariam em debate: Na primeira, adota workshops para que os países apresentem seus casos de sucesso com transição energética. Ou seja, não há uma definição de como, definições de metas, mas um compartilhamento de conhecimento. A segunda estabelece a medida como uma mesa-redonda ministerial de alto nível para discutir as diferentes circunstâncias e caminhos nacionais. Há uma terceira opção em debate, mas o texto dela não consta no rascunho já divulgado. Esse rascunho é resultado das discussões da manhã de terça-feira (18) e ainda não se sabe se houve alguma mudança nessas descrições. Ainda na terça, um grupo de países apoiou a adoção de um 'mapa do caminho' pelo fim do uso de combustíveis fósseis. 💡PROPOSTA DOS CIENTISTAS: Os pesquisadores vão entregar à presidência da COP um documento no qual oferecem como proposta para ser apresentada aos países a criação de um painel científico para desenvolver o mapa do caminho, com o objetivo de que seja apresentado na reunião sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, sediada na Colômbia, em abril de 2026. Nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Belém e está previsto um encontro com a comunidade científica e membros da sociedade civil, como o Observatório do Clima. Roteiros são fracos e não explicam como chegar lá Para o cientista climático Johan Rockström, as propostas apresentadas até agora são “uma provocação” e mostram que parte dos negociadores “não entende o que é um roteiro”. ““Como estão hoje, ambas as propostas de roteiros para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento são uma provocação. Os delegados parecem não entender o que é um roteiro. Um roteiro não é um workshop ou uma reunião ministerial. Um roteiro é um plano de trabalho real, que precisa nos mostrar o caminho de onde estamos para onde precisamos chegar — e como chegar lá”, diz Rockström. Os especialistas reforçam que, sem isso, qualquer compromisso perde credibilidade. ENTENDA: Mapa do caminho: por que o conceito pode se tornar uma das medidas do sucesso da COP30? Meta: zerar emissões fósseis até 2040–2045 O grupo afirma que a eliminação dos combustíveis fósseis deve ocorrer no limite entre 2040 e 2045. Para isso, seria necessário: proibir novos investimentos em petróleo, gás e carvão; remover todos os subsídios aos fósseis; adotar um plano global de inserção de energias renováveis de forma justa; ampliar drasticamente o financiamento climático. Esse último ponto é descrito como “imperativo”. Países em desenvolvimento, dizem os cientistas, não conseguem planejar nem executar suas transições sem dinheiro novo, previsível e baseado em doações — condição que, segundo eles, já afeta a credibilidade do Acordo de Paris. Florestas podem deixar de absorver carbono — e virar fontes de emissão Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30, chama atenção para outro risco: a dependência da manutenção das florestas como sumidouros de carbono. “Infelizmente, temos evidências crescentes de que as florestas estão passando de sumidouros a fontes de carbono. Isso ocorre porque as florestas são vulneráveis às mudanças climáticas e estão reagindo a secas, incêndios, ondas de calor e conversões de uso da terra cada vez mais frequentes e intensas.” O documento cita secas mais intensas, ondas de calor, incêndios e mudanças no uso da terra como fatores já visíveis que ameaçam a resiliência desses ecossistemas. Por isso, para os cientistas, os roteiros de eliminação de fósseis e de desmatamento precisam caminhar juntos — um depende do outro para funcionar. Eles também afirmam que: florestas em pé não podem ser usadas como compensação para continuar queimando fósseis; o roteiro para acabar com o desmatamento precisa prever financiamento, capacitação e monitoramento robusto; a maior parte das florestas tropicais intactas está em países pobres, o que exige apoio internacional. Curva das emissões tem que cair em 2026, diz Piers Forster Outro alerta importante vem do cientista britânico Piers Forster. Ele diz que a redução das emissões globais de gases de efeito estufa não pode ser adiada: “A curva precisa começar a cair no ano que vem, 2026, e as emissões de CO₂ dos fósseis devem cair ao menos 5% ao ano.” Segundo Forster, essa desaceleração é a única forma de evitar danos climáticos “incontroláveis e extremamente custosos”. Orçamento global de carbono está quase esgotado Os cientistas afirmam ainda que o mundo já consumiu praticamente todo o orçamento de carbono restante para manter a meta de 1,5°C ao alcance. O cálculo aponta que restam apenas 130 bilhões de toneladas de CO₂, o equivalente a 3 a 4 anos das emissões atuais. Para eles, retirar o conceito de orçamento de carbono do texto final da COP — como países produtores de petróleo vêm defendendo — seria “remover a realidade da conferência”. “O orçamento global de carbono está essencialmente esgotado, reduzido a 130 bilhões de toneladas de CO₂ — o equivalente a 3 ou 4 anos de emissões globais na taxa atual. Esse orçamento científico fornece a base de toda política climática séria. Remover o orçamento de carbono do texto significa remover a realidade da COP”, disse Piers Forster. Quem assina o documento Entre os signatários estão: Carlos Nobre (Science Panel of the Amazon) Fatima Denton (Universidade das Nações Unidas) Johan Rockström (Potsdam Institute for Climate Impact Research) Marina Hirota (Instituto Serrapilheira) Paulo Artaxo (Universidade de São Paulo) Piers Forster (University of Leeds) Thelma Krug (presidente do Conselho Científico da COP30) COP30: Delegações correm contra o tempo para fechar as negociações climáticas

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/11/19/cientistas-alertam-mapa-do-caminho-para-eliminar-fosseis-e-desmatamento-sao-provocacao.ghtml


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